21 de dezembro de 2009

Felina fugitiva



Acordei quando deixas-te a cama.
Arrefeceu logo do meu lado direito, bem ao jeito dos lençóis que deixaste amarrotados no lugar do teu corpo nu.
Tomaste um banho rápido, vestiste o que tinhas à mão e voltaste na direcção da cama.
Fiz-me de adormecido, apenas para te sentir chegar a mim, sem aviso.
Tal qual uma felina, pousaste o joelho direito na berma da cama, depois a mão esquerda, e por fim chegas-te ao meu ouvido.
Ia jurar que me ias dizer qualquer coisa. Eu fiquei ali, a gozar sozinho e egoísta aquele instante na esperança de sentir o teu toque. Mas ele não veio.
Tu recuaste, tanto até que estalou o trinco da porta.
Nunca mais voltaste.
Procurei-te pelas ruas, grandes e pequenas, nos bares, cafés e estações de comboio.
Andei dias na rede de metro à procura do teu perfume, do teu andar ou apenas de alguém que se risse como tu.
Perguntei aos perdidos da cidade se te tinham achado, aos atarefados de gravata se te tinham encontrado e até aos vadios da sociedade se se tinham cruzado.
Afixei posteres, gritei nos altos e pedi para mim.
Que voltasse aquele dia.
Que te sentisse entrar na cama e te fixasse só mais dessa vez.

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