24 de março de 2009

Sociedade



"Que linda falua que lá vem, lá vem, é uma falua que vem de Belém..."

Cantava eu com toda a convicção, e apesar de não fazer a mínima ideia do que seria uma "Falua", estava contente por ela vir de Belém, fosse lá ela o que fosse, sabia que vinha ao pé da minha casa!

"Quero-vos numa fila, dois a dois, de mãos dadas, ai de quem sair da fila! Oiçam lá o que vos estou a dizer, ninguém atravessa a estrada sem nós dizermos! Eu vou à frente e ela vai atrás, se algum de vocês se porta mal, acaba-se já com o passeio!"

Confesso que depois de ouvir este pré-aviso, nem sequer me atrevia a largar a mão do meu colega, lá íamos os dois sempre juntos, na linha dos que se perfilavam à nossa frente. Qual polícia, qual quê, eu tinha era respeito pela minha educadora!
Hoje vejo um grupo de miúdos da pré-primária (como se chamava antigamente), com quatro educadoras e dois agentes da Polícia Municipal.
Uma turma muito mais pequena que a minha da altura, com o triplo de adultos, sendo que um terço deles são agentes de autoridade...
Eu ia para a pré-primária sozinho, sem companhia, tinha cinco anos, atravessava estradas, seguia passeios, trepava a árvores, esfolava joelhos e partia a cabeça.
Que é que isto quererá dizer?
Sinceramente não quero mesmo pensar que eles nunca terão uma infância como a minha.
Para onde nos estamos a dirigir? Para uma sociedade mais segura? Com menos suspeita, e mais e melhores condições?
Não!
A segurança passa pela formação moral das pessoas, e não com a escolta de um grupo de miúdos enquanto passeiam pelas ruas que contornam a escola. A culpa não está na Polícia, mas sim nos pais que teimam em não colocar limites e ceder aos caprichos dos filhos, que amanhã serão os burlões, chantagistas, ladrões e raptores da nossa sociedade.
O que eu não tinha que penar para que os meus pais me oferecessem uma pastilha no único dia que iam ao café, ao domingo. Era algo que acontecia, direi com uma frequência quinzenal.
Hoje não vejo ser negado a uma criança um ovo kinder, um gelado que pede agora e depois já rejeita, este chocolate ou aquela boneca.
Só espero que quando for pai, não me esqueça disto tudo...

5 comentários:

Lina disse...

Subscrevo cada palavra.
**

Sofia disse...

Percebo perfeitamente. Eu também ia muitas vezes sozinha pra a escola primária, a pé, por caminhos sem casas, sem nada. Eu também atravessava estradas e ia ao café na hora de almoço, e não havia ninguem a vigiar. Eu não tinha telemóvel para ligar a dizer que tinha perdido o autocarro. Eu ficava sozinha em casa. Eu brincava na rua até ser horas de ir dormir. E acho qu este excesso de protecção nalguns casos, e falta de regras e limites noutros vai acabar por tornar estas criaças em adultos vulneráveis, mimados, sem noções de realidade. E isso não será nada bom! Mas parece que ninguem percebe.

Sara Caeiro disse...

Tens razão.
Mesmo assim, comparando com a tua geração a minha já teve menos do "ir para a pré-primária sozinha", mas comparando com esta nova geração os pais estão muito piores nesse aspecto!

Rakiely disse...

http://segredosperdidos.blogspot.com/2009/03/olhar-de-crianca.html

algo que escrevi ao ver um miudo no comboio em e recordei de velhos tempos (tal como tu)

falando agora do teu texto...que bons que eram esses tempos!que bom era chegar atrasada, mesmo quando se morava em frnte à escola...ou para evitar chegar atrasada passava por um buraquinho na vedação...

ainda me lembro do meu ar timido e de 'nao me toquem nao olhem para mim' cada vez que entrava na sala e ia para o meu canto e tirava as coisas da mala...

ainda me lembro de tanta coisa..
tanto das boas como das más
mas sempre com um sorriso =D

beijo*

Pipabagagrifas disse...

Penso muita vez nisso!!!
E agora que olho para a minha mana e digo sempre "eu com a tua idade já fazia/ia...", "eu com tua idade não tinha isso, nem havia hipotese de ter! queres mais para que!?", não sabem brincar, infelizmente! Já nos estágios reparava nestes tipos de comportamento... Mas será que a culpa é só dos pais!?
A nossa sociedade está sempre a mudar e já vimos que para melhor não é...