1 de fevereiro de 2008

O Fim!


Já não saia de casa há uns dias…
Acordava com um vazio que me enchia o peito e me toldava os sentidos. A vida, essa tinha deixado de ter aquele farol para me conduzir a um porto seguro.
Noite após noite deitava-me em posição fetal, cobria-me com os cobertores pesados e deixava-me afundar no oceano de lágrimas, pesar e amargura que tinha inundado toda a minha existência.
Nesse dia não me olhei ao espelho, não procurei uma roupa, não tomei banho, não me penteei. Tinha de sair, tinha de me deixar de isolar, tinha de procurar o meu destino e tinha que o enfrentar fosse ele qual fosse.
Chovia! Chovia de tal forma que quando entrei no carro, que não saia do lugar fazia dias, não via nada para o exterior.
Liguei o motor e comecei a vaguear como me sentia, sem direcção definida.
Farto do silêncio que me acompanhava desde o princípio do dia, liguei o rádio do carro...
“Preciso sair, para outro lugar, preciso esquecer, preciso falar, preciso sentir, a força de um abraço…”
Mudei de estação…
“Oh, trust in my, self-righteous suicide, I cry when angels deserve to die…”
Mudei novamente…
“E deixar-me devorar pelos sentidos, e rasgar-me do mais fundo que há em mim, emaranhar-me no mundo, e morrer por ser preciso…”
Parei o carro, desliguei o motor e dei por mim no local que me fazia sentir sempre em paz. Sai do carro e apreciei a paisagem nocturna de chuva, noite e mar.
Lá em baixo, o mar fazia com que eu sentisse uma calma inebriante com a sua constante vinda contra as rochas. A chuva caía misturando-se com as lágrimas o que provocava uma torrente pela minha face abaixo, trazendo o característico sabor salgado. Era como que mais um chamamento do mar.
Agora só tinha de fazer uma opção mental: ter medo ou ter coragem…
Entrei de novo no carro e um aguaceiro intenso caiu sobre o tejadilho.
Os deuses estavam zangados!
Tinha deixado de ver á minha volta… mas também não precisava!
Inspirei! Liguei o motor do carro e arranquei.
Já suspenso expirei pela última vez com a certeza de algumas pessoas nunca me perdoariam por ter desistido de lutar pelo que mais amava, lutar pela felicidade!
Depois… depois foi de novo só silêncio!

2 comentários:

Anónimo disse...

Dizem que escrever se pode tornar um acto de bastante sofrimento. Nunca consegui compreender ao certo o significado dessa afirmação porque todas as vezes que escrevi, fi-lo por uma razão bastante específica, pouco ficcional. Por mais ou menos sofrimento que tivesse na altura, era real, era meu!
Ora, nunca consigo deixar de me indagar acerca do estado de espírito de quem escreve aquilo que leio, seja um livro, seja um artigo, seja um pensasamento. O meu lado voyeur leva-me sempre para o outro lado do papel, o do escritor.
E, mais uma vez me pergunto, o que é que leva as pessoas a escreverem? Qual a motivação? Até que ponto é que se consegue escrever algo que não roçe o auto-biográfico?

Mas mais uma vez também digo... gostei muito do que li:)

Man Next Door disse...

Eu já tentei enterrar o meu tesouro tantas vezes... mas ainda nao consegui.

E também tenho uma enorme pena de matar o amor q há em mim.

Força ;)