4 de dezembro de 2007

Gestão de silêncios


Apareces-te de repente, não estava a contar.
Trocamos os cumprimentos do costume. Com os beijos na face, consigo sentir o teu perfume.
Arranco um assunto à pressa para quebrar o gelo e com ele talvez um sorriso teu. Não consegui.
Tu não adiantas mais nada e eu começo a ficar preocupado, falo do dia, da festa e da banda, mas tu não me estás a acompanhar. Pareces distante.
Ainda há bem pouco tempo, quaisquer horas contigo eram momentos, e agora parece que dois minutos são duas horas.
Enfio as mãos nos bolsos, já não sei que lhes fazer.
Começo a ficar incomodado. Olho para a direita, depois para a esquerda, na procura de alguém conhecido.
Gerou-se um silêncio e eu não estou claramente a lidar bem com isso. Vou trocando a perna de apoio e mexendo o tronco. Não gosto da música, mas sem querer, vejo-me obrigado a segui-la com o corpo. Tento parecer descontraído, mas a tentativa não passa disso.
Preciso de sair daqui, mas não arranjo como.
Respiro fundo e olho-te pelo canto do olho.Tu tens os braços cruzados e um sorriso que não é verdadeiro. Decerto também não sabes o que dizer, nem como estar.
Não é fácil lidar com o silêncio, mas não sou apenas eu, somos nós que o alimentamos.
A música mudou e com ela a minha visão do problema.
Não me interessa se simplesmente estás calada, ou se não queres falar. Eu também não quero falar.
Tiro as mãos dos bolsos e agarro em ti.
"Não sei dançar", sussurro-te ao ouvido.
Mas isso não te fez recusar...

1 comentários:

Anónimo disse...

Como as aparências iludem!
Quanto mais olhamos para pessoas que vemos quase todos os dias, menos nos apercebemos que nada sabemos delas!
Meu querido, quem diria que escreves tão bem!!! :)