22 de setembro de 2005

Praia do forte, praia da vida ou praia da morte

O que me arrepia, é o facto de num instante toda uma realidade se poder transformar num passado, que aos poucos os outros vão esquecendo. Toda uma vida que em 20 segundos fatídicos, pode desaparecer! Já pensas-te bem o que é sentir que só tens mais esse numero redondo de sensações e pecados mortais? Eu respondo por ti: muito provavelmente não.

Pensava eu que tinha tempo para pensar amanhã no pôr do sol na ombreira da minha janela, ou mesmo no primeiro beijo que eu te dei. Pensava eu que a ultima cara a encobrir o meu olhar distante seria a tua, pensava eu que a tua lembrança seria o meu oxigénio, logo agora que precisava tanto dele...Mas não, apenas me veio à cabeça aquela conversa que tive com uma amiga minha, onde eu estupidamente dizia que se morresse naquele momento morria feliz.. Como pude ser tão mentiroso! Eu não estava feliz, eu simplesmente não me conhecia. Não me conhecia, porque não foste tu a ultima imagem a encher o meu olhar, não era o teu sabor naquele mar, não era o medo de te perder. Sabes porquê? porque tu nunca foste minha, porque eu já esqueci o que era amar, já esqueci que sabias-a-mar.

O turbilhão do mar sufocava-me cada vez mais, e eu só pensava na ironia que por vezes esta vida nos espeta na cara como uma almofada de gelo.Cada vez mais me enterrava naqueles dois a três metros de maré traiçoeira. Fiquei sem palavras, e quando pensava que a melhor resposta era ficar calado, de pensamento vazio, fui contra um cogumelo ou uma daquelas estrelinhas que nos dão uma vida extra, já não sei bem como...estava escuro. Foi a ultima vez que o vi! ao escuro. Agora sei que da próxima vez que disser que: “já posso morrer feliz”, estarei a ser sincero, porque outra imagem me irá encher o olhar, porque me vou lembrar da minha mãe, porque me vou lembrar do carrinho que construi para o meu filho...
Não te esqueças, que desaparecer na primeira oportunidade, não é pôr um ponto final na tua vida, é sim ficar em branco, e ficar infinitamente à espera que venha alguém acabar uma história...a tua história.

Histórias em branco, são como algodão doce na minha boca.
E é impressionante como aquela bola enorme cor-de-rosa nunca me mata a fome... porquê será?

2 comentários:

Anónimo disse...

Ora, um comentario ao maravilhoso...
Mar,terra,ondas,vida,morte...e no meio disto tudo,questionamos a felicidade... a felicidade sentida no ultimo instante da nossa vida!
O estarmos ou nao felizes depende muito da nossa forma de ver a vida,como tu proprio dissest,recai consequentement no conhecimento "...nao estava feliz,simplesmente nao me conhecia".
...
Enche-me o peito, e dá-me vontade de fechar os olhos,simplesmente,quando acabo de ler este texto...porque...apetece-me sentir as imagens...quentes,que lá sao descritas!Apetece-me dizer que "se morresse agora,morria feliz",mas afinal,nao era eu que estava feliz...era a minha alma,a minha mente,que certamente ainda pairava lá no alto,e...ainda nao me tinha trazido para a realidade...
Ah!Enquanto me perdia pelo infinito,a minha alma encontrou um pássaro,que me pediu para dizer-te que nao esqueças o que é amar...
(Gostei muito,Pedro!) * * *

Anónimo disse...

Gostei porque perturba, gostei porque faz sonhar, gostei porque faz pensar nos limites da vida, no principio e no fim, gostei porque as metáforas são agridoces, ferem e sabem bem ao mesmo tempo...Gostei porque é sempre bom sentir que as palavras são gestos mágicos que nos prendem a atenção de mil formas diferentes...