22 de maio de 2010

Despida por uma noite - Parte II



Ver Parte I

Bem sei que era assim que me querias, mas tudo não passou de um desejo...
...

Foi nesse dia que aquele rapaz se decidiu pelo mundo da música.
Estávamos em 1964, quando o nosso vizinho actuou pela primeira vez nas festas da nossa pacata Vila Mexicana.
Ele tinha a sua Banda, algo ainda muito amador, no entanto, o som que saía daquela guitarra dizia-me que por alguma razão, aquela noite se iria tornar especial.
Assim foi, tanto para ele como para mim.
Lembro-me que os vizinhos vibraram do primeiro ao último minuto de cada acorde tocado, e desde o rapaz magricelas que nós dois víamos nessa noite, ao Santana que hoje todos conhecemos, parece que foi um repente...

Lá ao fundo ele estava a terminar a actuação.
Cabelos compridos numa cabeleira farta de compridos caracóis, e um público de cerca de 80 pessoas em frente ao palco.
Eu, já transpirado de tanto dançar com as vizinhas do prédio, resolvi afastar-me um pouco para respirar. Andei até ao cruzamento mais distante, onde ainda era possível ver a actuação da nova revelação e com uma garrafa de cerveja encostei-me à parede, dobrei um joelho, cabeça para trás e assim fiquei por algum tempo.
Esta era uma daquelas noites já habituais na realidade da nossa Vila. Uma noite de ar quente, que hoje ainda iria queimar mais a cada inspiração.
Apareceste, a desafiar-me para uma última dança. "Oye como Va", disse ele lá do cimo do palco, e eu para não te dar parte fraca avancei.
Dançámos, rodámos até eu já não poder puxar mais por ti.
As minhas mãos escorregavam para o fundo das tuas costas. Estavas encharcada, e eu que na altura já ignorava essa situação em mim, apenas tinha dois botões da camisa abotoados...
Rodei-te uma e outra vez, na esperança que desses parte fraca, mas nada. Dois, cinco, sete minutos, intensos, numa de trocas de olhares e apertões, sempre contidos no último momento.
A música parecia que subia de volume, tu estavas a puxar cada vez mais, agarraste a minha camisa e empurraste-me para uma das ruas transversais.
Agora apenas se ouvia a música ao fundo, mas tu, nada dizias.
Tapaste-me a boca com a tua mão esquerda, com a direita abriste-me o que faltava da minha camisa, e no momento em que eu me tinha finalmente rendido ao teu brutal poder de sedução, viraste costas e nunca mais disseste nada.

Hoje vivo em Portugal, a vida deu muitas voltas...
O Santana é mundialmente famoso, eu continuo a admira-lo, mas tu continuas presa à minha memória.

Terça-feira lá estarei no Pavilhão Atlântico... Pode ser que te encontre...!

2 comentários:

dona-peppers disse...

Envolvente!

Vais ver Santana?

Anónimo disse...

Nunca iria acabar assim...
(tu sabes)