10 de março de 2010

Despedidas difíceis



"-Não nos vamos voltar a ver!..."

Seguidos desta frase, ali se deixaram ficar, perdidos, como se fossem apenas mais um ponto que fazia parte daquela enorme esplanada.

Ele, algum tempo depois lá se levantou, molengo, empastado e incrédulo pela confissão que ela lhe tinha feito.
Sempre sem dar parte fraca, inventou segurança e integridade onde nunca a tinha tido.
Fingiu o que nunca tinha fingido, e mostrou indiferença num sorriso pendurado por molas de plástico
. Daqueles rápidos e rasgados de rugas que trepam às bochechas, imediatamente antes de alcançar o olhar...
Ela deu-lhe boleia, pela última vez.
Dentro do carro o ar ficou quente, quente como a música que lhe calava as ideias. E ele calou-se.
Antes que ele saísse, ela pediu-lhe que aguardasse um pouco, que ouvisse bem a música, uma última vez.
Ele, pôs as duas mãos debaixo das pernas e enquanto a música durou não disse uma palavra. Escutou aquela última vez, como tinha que ser, como todas as últimas vezes o são, rápidas, breves e inconscientes.
Lá fora já tinha caído a noite, e ao longo da avenida perfilavam-se os traços congestionados de luzes encarnadas e brancas, agravados pela chuva que começara a cair novamente.
"- Xau."
Ele bateu a porta. Saiu a correr contra os pingos frios que lhe batiam na cara e alguns segundos depois imobilizou-se, olhou para trás e acenou na esperança que ela respondesse.


Porque na última vez nunca se diz "adeus", ele disse "xau". Uma última vez, sempre rápida, breve e inconsciente.

Pearl Jam - Given to Fly

1 comentários:

Anónimo disse...

porque uma despedida a serio é a morte. ai sim percebes que nunca mais vais ver essa pessoa. e tens uma dor enome, dilacerante no peito, a trespassar o corpo
tudo o resto sao tretas.
grandes.



daniela