8 de junho de 2009

Noites solitárias



Entraram na cama a tempos diferentes, cada um por seu lado.
Ele como de costume, manteve a luz branda da mesa de cabeceira ligada.
Nem naquele dia parecia querer abdicar dos seus dez minutos de leitura nocturna, talvez por se querer mostrar mais forte e dar a entender que não estaria afectado pela discussão de há pouco.
Abriu o livro e ali ficou a olhar fixamente para a mesma página, vezes e vezes sobre a mesma linha, sem a mínima capacidade para apreender o conceito de todas aquelas palavras juntas.
Ela do outro lado continha uma respiração soluçante. Apercebera-se que ele não folheava o livro que ultimamente lhe vinha descrevendo com entusiasmo.
Escorreu-lhe primeiro uma, depois seguiram-se as outras que tomaram o mesmo caminho da primeira. Elas eram lágrimas, pesadas, que iam descapando a sua cara lisa, agora toda amarrotada.
Cada um de seu lado, evitava a todo o custo o breve contacto de uma perna ou o leve encosto de um braço, como se temessem ultrapassar uma barreira imaginável a meio da cama.
Incapazes de dirigir a palavra um ao outro, sem o mais pequeno sentimento de arrependimento ou a mínima vontade de pedir desculpa, foi assim que se deixaram adormecer.
No dia seguinte acordaram com a sensação que algo se tinha partido. A agonia dessa percepção era de tal modo sufocante que não olharam a meios para reparar o que se havia perdido...
"I dive in at the deep end
You become my best friend
I wanna love you but I don't know if I can...
I know something is broken
and I'm trying to fix it
Trying to repair it anyway I can"

1 comentários:

Sara disse...

Por mais que se tente unir os “cacos” do que se quebrou, irão sempre ficar vestígios, cicatrizes…
Nada volta a ser como era ontem, porque o que fazemos hoje, reflecte-se sempre no amanhã…*

Sara (Guarda)