10 de outubro de 2008

Paris para sempre - Parte II



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Ao lado do banco deles, um homem com os seus 60 anos consumia um rádio a pilhas que agora cantava "Je t´aime... moi non plus".
A força com que apertava o rádio, denunciava claramente uma história em tudo parecida com a daqueles dois, seguramente naquele banco ao lado, algures em 1968. A música seria decerto a de eleição, quem sabe a maior responsável por tudo aquilo que esse homem desconhecido e a sua memória viveram.
Hoje era a vez destes dois. Sentados num banco junto à margem do rio que reflectia nas suas pequenas ondulações as luzes da Torre Eiffel.
Ele virou-se de frente para ela, aproximou-se e fechou os olhos.
Sentiu as unhas dela deslizar nas suas costas, lentamente, tão mais lentas que aquele momento, que aquela noite, que aquele vento quente que teimava entranhar-se por entre as caras de ambos.
Tão mais lentas que ali ficaram enquanto se esquecerem deles e não se lembraram
dos outros...
- "ma maison est là...", disse ela, na esperança de não parecer muito directa.
- "où?"
Ela segura de si como ele nunca vira ninguém, puxou-lhe a mão e levou-o até à sua mota. Prometeu-lhe uma vista de Paris como ele nunca mais iria ter e assim o cumpriu. À chegada aos Champs Elysées, encostou à berma e passou-lhe a mota para as mãos, queria agora ser conduzida.
Eles subiram a avenida até ao Arc de Triomphe e ele amante da velocidade como sempre foi, acelerou até mais não puder, apenas para puder sentir os seios dela encostados a si.
Os braços dela apertavam cada vez com mais força, aquele que seria o único a fazê-la despojar de qualquer vontade para além de um simples agarrar de cintura, que ela disfarçadamente aproveitava para sentir o tronco definido.
Subiram os quatro andares por umas escadas de madeira bem estreitas, que iam chiando ao som dos pés e dos encontrões.
Ela empurrou-o contra a porta, fechando-a duma só vez. Virou-lhe costas e foi até à janela.
Abriu-a, deixando apenas entre eles e a rua, os cortinados que ondulavam ao som daquela noite quente em Paris.
De costas para ele, tirou o vestido e imaginou-o sem roupa.
Queria sentir-lhe o peito, e ser dominada pelas mãos dele.
A ele secou-lhe a garganta e a fala. Apenas queria ouvir.
Queria ouvir dela a respiração ofegante.
"- Tu vas e tu viens..."
E ouviu. Ouviu algo que nunca mais saberá contar, apenas sentir, e se o quiser voltar a sentir sabe que será apenas com ela.
Já com o sol a bater na cama, iluminando aqueles cabelos desordenados e aqueles corpos que nunca haviam sido de alguém... Elle a dit:
- Je t´aime...

Ele apertou-a mais que nunca, e assim ficaram até de novo adormecer, aquecidos pelo sol de uma manhã quente,

Aqueles corpos que nunca mais serão de mais alguém.




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