8 de julho de 2008

Verdes Anos



Acabei de me desviar agora dos teus olhos.
Caminho com uma indiferença desconcertante, para nunca mais me voltar a cruzar com esse castanho forte.
Tinhas o cabelo apanhado e uma camisola quente, bem quente!
Por três ou quatro segundos amassamos o silêncio de um adeus para sempre. O tempo parou e as pessoas que à volta caminhavam apressadamente, também. Caiu tudo sobre mim, e a lágrima que escorreu nesse instante desse teu olhar agora derrotado, atou violentamente um nó na garganta, que anos depois ainda lá estaria por desatar.
Despedi-me já numa versão automática, olhei-te mas já não te vi, toquei-te mas já não te senti, de tal modo, que nem sequer me apercebi que essa seria a última vez que teria o meu rosto encostado ao teu. O teu rosto quente, tão quente!
Decidi apanhar o metro até à baixa para aí me perder.
Sei que aí poderei vaguear à vontade sem darem mim, sou apenas um entre muitos mais, e ninguém me virá perguntar porque não sorrio, porque não olho em frente, porque caminho desleixado, ou porque trago um raiar de sangue nos olhos.
Percorro a calçada portuguesa porque é tudo que os meus olhos hoje conseguem alcançar.
Oiço...
Alguém sentado num banco da praça, toca, mas toca a sério, tão a serio que me tocou a mim, e assim sem eu sequer autorizar, arrancou-me a alma para com ela começar a dançar. Lenta e melancolicamente.
Triste melodia, essa. A única que hoje poderia levar-me para dançar.

4 comentários:

Anónimo disse...

Poderoso... muito sentido... quase somos capazes de tocar essas emoções mesmo que por milésimos de segundo...

Beijinho
Ana Alvarenga

Anónimo disse...

ainda não tive o tempo necessário p mergulhar nas tuas palavras completas mas bastou estes "verdes Anos" para seduzirem logo. Essa música é pano de fundo p conversas com uma amiga de Coimbra e porque aconteceu em Coimbra, escuta esta versão dessa mesma musica http://youtube.com/watch?v=TNyjEQHXXj4

Ass: deluas (W-ARMY™)

Anónimo disse...

Maravilha de Musica... e bonito texto.

Sara Caeiro disse...

Gostei do texto. Somos transportados para essa realidade... E com essa música... Muito bom!