12 de março de 2007

Vidas paralelas

Experimento olhar pela janela.
Estou preso na auto-estrada, e decido invadir as inúmeras vidas, que a pouco e pouco vão passando ao meu lado.
Avanço mais um pouco, e uma mãe ilumina a boca do seu filho com a luz de um telemóvel, tal qual um dentista na busca de uma cárie. Coisa estúpida à 1ª vista, mas não o é quando se trata de uma mãe e um filho.
Paro a marcha.
Um velho de feições acabadas, talvez pense nos seus netos, no período do ultramar, ou naquele pôr do sol que o marcou para sempre, não porque era o mais bonito, mas porque ela estava ao seu lado.
À minha esquerda, uma família inteira. Todos calados. Zangados, ou pensativos?! Talvez desligados...Não sei.
Agora passa um casal em cima de uma mota de alta cilindrada. Ele abranda, e ela aperta-o mais contra si.
Está frio lá fora.
Um autocarro lotado gente. Excursão de 3ª idade...digo eu.
A senhora da penúltima fila faz croché, e lembra-se dos bailes na sua terra quando era mais nova. Ia a todos. Na fila da frente outra senhora. Os dedos cheios de artroses, e um sorriso na cara quando repara que eu olho para ela, como quem diz, “enquanto as pernas permitirem, faço questão de vingar a dureza destas mãos”.
Subtilmente a fila desvanece-se.
Esqueço-me que há outras vidas ao meu lado, e deixo-me hibernar mais uma vez na minha.

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