26 de julho de 2006

Rua da Eira


Olho para o calendário e parece que nem sinto os dias a passar, uns atrás dos outros. Hoje são 26. Tenho a impressão que estou sempre igual, e que a única coisa que muda são os ponteiros do relógio, os números do mês e as estações do ano.
Às vezes invejo o grupo de reformados que passam vezes sem conta em frente à minha janela, de trás para a frente.
Embora ele sempre tenha existido, este, é um trajecto por eles descoberto à pouco tempo.
Nos meus tempos de infância nada era assim.
Nessa altura, esses mesmos senhores chateavam-me o juízo vezes sem conta, interrompendo grandes jogatanas da bola, por, imaginem lá, umas "pequenas" boladas nos seus automóveis acabados de lavar.
Éramos putos... equiparados a um conjunto de células histaminais. Todos com potencial para chegar bem longe, ou mesmo, cair ali ao virar da esquina.
Aparentemente alguns perderam-se nesta guerra, e hoje, momentos desses, só mesmo nas nossas memórias.
Esses tempos já lá vão...
Os tempos em que a minha mãe me vinha chamar à janela para lanchar...
Os tempos em que fazíamos cabanas no monte em frente à minha casa, com caixas de cartão e tiras de estores...
Os tempos em que descíamos inconscientemente pequenas ravinas, aos grupos de três, todos metidos dentro de um pára-choques voltado ao contrário.
Os tempos em que chegava a casa todo sujo, com os joelhos esfolados, com as meias atulhadas de carrapetos e com carraças nas orelhas...
Os tempos em que cada tarde era uma aventura...
Os tempos em que jogar às escondidas até às 23h era o máximo da liberdade parental...
Os tempos em que os nossos maiores pecados, eram as tais boladas nos automóveis...
Os tempos em que aqui na rua éramos todos bons rapazes...
Tenho inveja desses tempos...tal como tenho inveja deste grupo de reformados.
Talvez porque eles sabem mastigar os passos...
Talvez porque eles são os únicos que se sentam nos bancos da minha rua...
Talvez porque eu raramente reparo que existem bancos na minha rua...
Talvez porque no relógio deles, os ponteiros já estão cansados... e o tempo custa a passar...

5 comentários:

Fox disse...

Eu não tenho inveja dos reformados, porque eles já viveram a vida deles, e estão numa fase diferente da nossa! Mas a fase de andar na rua a descer umas escadas bem grandes, montado em cima de uns estores, ou andar metido no meio das pulgas, ou nalguma ruloute abandonada que era o nosso sítio secreto, também já acabou... Estamos numa fase nova, em que temos a verdadeira responsabilidade perante a nossa sociedade, somos encarados como adultos... A nossa diversão agora é diferente, gostamos de socializar em diferentes contextos, uma saída á noite implica sempre um copito e um abanar de corpo, por mais ligeiro que seja... Um dia também vamos ser reformados, mas aí a diversão vai ser outra!

Um abraço

Zana disse...

Um sonho... é isso que a nossa vida é. Um sonho organizado, com diversos estados, diferentes níveis...

Os primeiros níveis costumam ser sempre um grande divertimento, os intermédios são sempre os mais difíceis, e só aqueles que lutam e têm vontade de chegar ao fim, sentem as saudades, que sentimos, dos primeiros níveis.

Mas é isso que faz de nós homens e mulheres d e armas...

E muitas vezes, a força para continuar a andar para frente, e não deixar que fiquemos estagnados, vem precisamente desses momentos tão deliciosos da nossa infância... É lá que eu vou alimentar a minha esperança, é lá que encontro força para lutar todos os dias contra esse relógio teimoso que nos que controlar a todo custo...

Beijos

Anónimo disse...

Olá Padrinho!! =P Passei e não podia deixar de comentar um texto que fala não só da tua mas também... da minha RUA... lololol =P O que é facto é que a vida vai passando e nós por vezes nem damos conta... mas o que nos vale é que esta "vida é feita de momentos de eternidade" por isso tudo o que vivemos ficará pra sempre dentro de nós...sendo assim nunca te vais esquecer dos bons momentos que já passaste nesta nossa rua que tal como tu dizes é "a rua que dá sentido a uma vida"... =P Beijinhos gandes!!!!!

Anónimo disse...

Eira street a melhor rua do país... uma rua que proporcionou a todos os que nela vivem grandes momentos. Uma rua que oferece simultaneamente um ambiente citadino e uma parte rural. A única rua que possuia incorporada um campo relvado de futebol daí o facto de a escola de formação da Eira ter produzido muitos talentos para o futebol... o perfume do futebol da Eira é reconhecido por todos os cantos do país e além fronteiras e os seus jogadores objecto de muita cobiça!
Resumindo não há rua como a Eira...

Anónimo disse...

Cá estou eu a comentar mais uma vez este teu texto que tanto gosto.. porque será?? :P Ah é só pa te dizer que descobri uma rua que é a melhor RUA para se morar depois da Rua da Eira.. e tu sabes qual é? SABES, sabes?? lol :P Eu digo-te: a melhor rua para se morar depois da Rua da Eira é a Rua das Fontes na PONTEIRA!... =P Lol muitos bjinhos ***Laudinha***